Participo de inúmeros debates e estudos sobre o novo papel do advogado e as competências necessárias frente às tecnologias implementadas nos escritórios e departamentos jurídicos, no Brasil e em outros países.
Percebi que os advogados brasileiros têm uma grande incerteza em comum com os advogados de outras nacionalidades. Todos têm dúvidas sobre como construir uma carreira de sucesso nesse momento de (r)evolução tecnológica no Ecossistema Jurídico – escritórios, departamentos jurídicos, sistema judiciário e sistema educacional.
Homem x robô ou Homem + robô?
Quando falamos na substituição do advogado pela inteligência artificial, robotização e automação de atividades jurídicas, é possível constatar que os dilemas são, realmente, os mesmos:
- O que esperar dos advogados que estão entrando no mercado de trabalho com ótima formação acadêmica e zero autoconhecimento sobre suas soft skills[1]?
- Como fica a situação dos profissionais que estão atuando no mercado, hoje, vendo suas atividades desenvolvidas, total ou parcialmente, por soluções tecnológicas, sendo “obrigados” a se reinventarem para se manterem competitivos, úteis e valorizados?
- Além do conteúdo técnico, como as faculdades podem ajudar os profissionais a desenvolverem competências comportamentais?
- Qual o papel dos gestores jurídicos, em relação à sua liderança nesse momento de transformação?
A profissão do advogado não está desaparecendo, mas se transformando. Essa realidade já está acontecendo. Advogados e estudantes de Direito que não estiverem atentos não sobreviverão à transformação do mercado de trabalho.
Atividades operacionais, repetitivas, como por exemplo, preenchimento de andamentos processuais, busca on line de documentos e jurisprudência, preenchimento e até confecção de minutas de contratos de baixa/média complexidade feitas com maior precisão pela máquina e produtividade infinitamente melhor, não precisarão mais serem desenvolvidas pelo ser humano.
Não basta sermos bons profissionais tecnicamente, pois isso é o básico e esperado. É preciso sermos estratégicos, conhecedores de temas variados, buscadores de formações que vão além do estudo do Direito e que permitirão usufruirmos de tudo que a tecnologia poderá proporcionar para o trabalho de excelência.
É imprescindível buscarmos o autoconhecimento e desenvolvermos soft skills que nos tornem completos.
A fim de analisar como a automação impactará os empregos, a Consultoria PWC do Reino Unido elaborou uma pesquisa[2] [3]considerando três ondas de automação entre 2020 e 2030.
Não restou dúvida que as funções menos impactadas serão aquelas com maior dependência de habilidades sociais e do toque humano.
O novo cenário dos ambientes de trabalho vem sendo construído com as principais habilidades para um novo mindset, mais aderente à transformação: curiosidade, criatividade, adaptabilidade, capacidade de se comunicar em ambientes multidisciplinares e espírito colaborativo.
Saindo da zona de conforto
O advogado que se mantiver na zona de conforto repetindo o discurso “isso sempre foi feito assim” ou com a postura “isso não é comigo”, não sobreviverá por muito tempo.
Quanto mais estratégica a atuação, mais necessário o envolvimento direto com novos projetos que precisam de soluções inovadoras e pensamento “fora da caixa” que module riscos x oportunidades de negócio.
E o gestor jurídico, enquanto líder, precisa constantemente incentivar sua equipe na busca do autoconhecimento e usar o que cada um da equipe tem de melhor em termos técnicos e comportamentais.
Em seu livro “21 lições para o Século XXI”, Yuval Noah Harari enfrenta a questão do trabalho x automação das atividades, especialmente com uso da Inteligência Artificial. Se, por um lado, há uma linha de entendimento de que em até duas décadas bilhões de pessoas serão redundantes economicamente, existe outra que acredita que a automação, a longo prazo, gerará novos empregos.
Apesar de ainda existirem muitas incertezas, quando o autor projeta o futuro do trabalho, deixa clara algumas necessidades – a reinvenção constante do profissional, as pessoas terem mais de uma profissão e exercê-las em um ambiente de trabalho colaborativo e cooperativo entre a máquina e o ser humano. E completa, dizendo que para lidar com as rupturas tecnológicas e econômicas que virão torna-se urgente o desenvolvimento de novos modelos sociais e econômicos. Recomendo a leitura[4]!
Finalizo esse artigo convidando para o questionamento:
Você está preparado para as mudanças que virão? Sabe quais seus diferenciais para permanecer competitivo e estratégico no mercado? O que você tem feito para se conhecer melhor e desenvolver outras competências?
[1] Soft skills são habilidades relacionadas à inteligência emocional que nos ajudam a interagir melhor com o outro.
Créditos da imagem:
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Ana Paula Halla
Advogada, Consultora, Coach e Mentora de Carreira Jurídica, entusiasta da inovação tecnológica para o jurídico integrada à gestão de pessoas.
Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Contratos pela CEU Law School, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV/SP, _Executive_ LLM pela CEU Law School, Educação Executiva em Liderança e Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral e em Business Marketing Strategy pela Kellogg School of Management - Northwestern University.
Participante do _Short Program "Disruptive Business Models" _ da AESE Business School em Lisboa, Portugal.
Membro da Sociedade Brasileira de Coaching.
Co-criadora do Workshop "Eussência: um convite para refletir sobre o seu objetivo de vida".